quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Piratas de Moçambique

Sou grande admirador da saga "Piratas das Caraíbas". Johnny Depp é dos meus actores favoritos, e é interessante ver como Jack Spirrow (assim se escreve?) safa-se das armadilhas e assombrações. Ou será que ele é um fantasma, também? Será que os piratas são fantasmas? Daqueles que só vemos em Hollywood ou que habitam os thrillers mais emocionantes das histórias contadas pelos nossos avós? Não. Os piratas são reais e estão bem perto de nós. Na realidade, cruzamo-nos diariamente com os nossos na via pública.
Os Piratas de Moçambique navegam no mercado paralelo moçambicano e têm que se defender de outros piratas maus: os Polícias Camarários. Estes de vez em quando fazem as suas investidas e os Jack Spirrows moçambicanos lá se safam milagrosamente. Mas deixemo-nos de tretas e hipocresias. Os Piratas de Moçambique trazem alegria a muitos lares moçambicanos. Eu pessoalmente compro religiosamente 5 filmes piratas todas as semanas para ir me deliciando ao longo do fim de semana com uma tijela de pipocas ao lado. E quem os vende são jovens, mas vejo cada vez mais pais de família nesse negócio.
Eu não tenho editora, então como é que a minha música é conhecida em quase todo Moçambique? Graças aos piratas? Sem dúvidas. Infelizmente as nossas editoras e distribuidoras não têm capacidade para colocar a música moçambicana em todo país, e a bom preço. Quando a comunicação social pergunta aos músicos moçambicanos o que acham da pirataria, todos a condenam (até eu já o fiz). Todos afirmam-se capazes de arrancar das mãos dos piratas os discos piratas. Sim, assim mesmo, com violência e redundância. Mas o quê não é pirata em Moçambique? E isso que não é pirata, é acessível a todos?


As duas linhas em branco foram de propósito para dar tempo para pensar. Mas eu já estou resolvido. O problema não é a pirataria. E já agora, prefiro ver jovens e adultos piratas, em vez de criminosos. Porque poucas alternativas restam a muitos moçambicanos que têm que pagar contas e sustentar a família como nós, mas que não têm emprego como nós, não foram a escola como nós e nem são filhos de "alguém" como nós. Porque é que criticamos a podridão dos frutos, quando sabemos da podridão da árvore? A pirataria é só um dos frutos podres. Os cidadãos precisam de saídas para os becos desta vida. Atirar pedras para quem está a tentar sobreviver, não é solução.
Por isso, desde já, vai a minha saudação aos Jack Spirrows moçambicanos. Continuarei a comprar os vossos filmes. Se vos encontrar a vender a minha música sem a minha autorização, não vos arrancarei nada das mãos. Pelo contrário, vou sentir-me feliz por saber que estou a contribuir para o sustento duma família e oferecerei um "obrigado" por levar a minha música a Mutarara, Angoche, Boane ou Quissico. A minha música pertence ao povo mesmo.
Para finalizar, reiterar que acredito na proporcionalidade inversa entre a pirataria e o nível de vida. Quanto maior a segunda variante, menor a primeira. Por isso, chega de tretas!

1 comentário:

  1. Oi Mano,
    Não faz o meu jeito elogiar o pessoal, porque deixei isso há anos quando descobri que as pessoas elogiavam para puxar o saco ou lamber as botas de uns tais Boss.
    O que me leva a escrever o comentário, é para dizer que o teu ponto de vista é realmente o que todos deviam pensar em Moçambique, pelo menos aqueles como tu, como eu e como outros tantos, que sentem a vida a apertar.
    Fiquei emocinonado Azagaia, quando em principios de 2008, fui a um distrito chamado NIPEPE, lá para o nordeste do Niassa, na altura não chegava o sinal de TVM e nem MCEl. Sabes... Não havia diversão na vila... se não mesmo... ums sala de projecção de filmes Piratas. Sala para quem diz, porque tratava-se de um quintal.
    O que mais me emocionou nesse quintal de cinema, foi que no documentário, antes do próprio filme, "Passava o teu VIDEO :AS MENTIRAS DA VERDADE". Todos pediam a repetição.

    Sabes Mano Azagaia, não sou fã da Pirataria, mas eles, os Piratas, contribuiram para o que o seu nome fosse conhecido até as Zonas reconditas de Moçambique.

    Um desses camiões transportadores de passageiros, que lá circulava, vinha com uma escrita na porta: "MANO AZAGAIA, HOMEM DE TESTICULOS NO LUGAR,QUE MUITOS DEVIAm ALUGAR".

    Viste, compreendeste. O povo a procura de sobrevivencia, pirateia tudo e todos, mas para além disse, DIVULGA AQUILO QUE A IMPRENSA OFICIAL NÃO O FAZ.

    TCHAU MANO, UM DIA VÁ LÁ, LÁ MESMO, CANTAR PARA AQUELE POVO. E FAÇA UMA MÚSICA A FALAR DOS PIRATEIADORES DA SOBREVIVENCIA.

    ABRAÇOS
    TEU MANO

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