terça-feira, 30 de novembro de 2010

Música Perigosa


Este é um projecto que vai trazer o Mano Azagaia ao vivo, com banda, em várias casas de espectáculos de Maputo e quem sabe fora. Conto com todos. Atrevam-se!!!(clique no poster para ver os detalhes)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Lições do Facebook (Pimp the system)

Eu acredito que Mark Zuckerberg e os seus colegas de Harvard, quando inventaram o Facebook, quiseram estimular uma necessidade que todo ser-humano possui, a de PARTILHAR. Sim, todos precisamos partilhar. Partilhar as nossas vidas. Todos acreditamos que elas são emocionantes o suficiente para fazermos um jornal a falar delas. E claro, um jornal que será lido. A cima de tudo é isso. Sabermos que esse jornal será lido e comentado.
O que nos fascina é a audiência. E queremos que essa audiência concorde que o nosso fim-de-semana foi fabuloso. Que os nossos amigos são especiais. Que os nossos filhos são lindos e fofos. Que nós somos lindos e fofos. Sensuais. Sexuais. Espera aí... SEXUAIS? Sim, parece que sim. Respira-se sensualidade e sexualidade no Facebook. Basta dar liberdade ao homem, para ele se revelar. Sim, revelar-se. Rever-se nas poses duma fotografia. Olhar para si próprio ali, imortalizado num frame, numa fracção de segundo e dizer: este sou eu, lindo/a, sexy, irresistível, disponível, desejável,e.t.c. É incrível o quanto somos animais sedentos de luxúria, sexo, mas também amor, fraternidade, amizade e reconhecimento.
Não se pode lutar contra o sistema. Ele é grande demais. Ele somos nós, com as nossas ambições, segredos, hipocresias, inércias, resistências e necessidade de conforto, de deixar como está, de deixar para depois. Ele somos nós naquela preguiça louca de ir à cozinha e fechar bem a torneira que está a gotejar, naquele exacto momento em que nos deitamos, depois de um dia cheio de trabalho. O sistema somos nós que justificamos os nossos erros com os erros dos outros, quando deixamos de fazer a nossa parte porque o outro também não faz a dele. Ele somos nós a festejarmos a baleia que apareceu morta na praia. Porque não há lei que preveja tamanho imprevisto, ´mbora sacearmos a nossa fome! Sim, o sistema somos nós. O sistema é o reflexo do nosso egoísmo, do nosso instinto de sobrevivência. Porque mesmo quando vivemos na opolência, sobrevivemos aos olhares invejosos, aos jornalistas metidos e inquisidores, que não nos deixam viver as nossas vidas. Que questionam os que melhor se aproveitaram da podridão do sistema. Os que perceberam que até uma coisa podre tem mercado, basta perfumá-la. Sim, o sistema somos todos nós, vís, violentos, fortes batendo nos fracos. O sistema é o Caim que matou Abel, porque ser amado por Deus é menos lucrativo que ser homenageado pelo Diabo. É menos!
Viver fora do sistema é complicado. É negarmos uma parte de nós. É auto-mutilação. É cortar o clítores. É negar um exame de próstata. É negar uma transfusão de sangue e de cultura. É muito difícil. Mas é possível se o fizermos de outra forma. Se transformarmos as nossas fraquezas em força. Em possibilidades novas e múltiplas. Olhem a formiga que matou o elefante, depois de passar o verão armazenando comida enquanto a cigarra dançava? Bem, de certeza que a única música que a formiga dançou foi:

Pimp the system!
Let´s pimp the system!
Pimp the system!
Let´s pimp the system!

Vamos chular o sistema. O sistema deverá trabalhar para nós como trabalha para os outros. Mas vamos fazê-lo trabalhar diferente. O ferro pode servir de pilar numa construção, mas pode servir de arma branca, também. Pode servir de arma dos brancos ou dos pretos. Dos caucaseanos e dos negros. Pode servir!
O Facebook pode servir de palco para assistirmos a espetáculos de nudismo ao preço barato de uma conexão TVCABO ou TDM. Banda larga ou finhinha. Bunda larga ou fininha. Ideia escrita, pensada, experimentada, partilhada ou pode o Facebook ser biquini sensual, quase sexual estampado nas páginas digitais. Pode tudo que quisermos. Liberdade! Eu acho que as ferramentas do sistema podem ser usadas como quisermos. Então, cabe a cada um de nós usá-las com responsabilidade. Matar o elefante subindo trompa a dentro. Matar por dentro. Tudo o que te mata, pode matar o outro, também. Pode matar o dono da arma, principalmente. Então, mesmo na língua do dolar, para que todos percebam:

Pimp the system!
Let´s pimp the system!
Pimp the system!
Let´s pimp the system!

Acabou inspiração! Ufff!!!!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Piratas de Moçambique

Sou grande admirador da saga "Piratas das Caraíbas". Johnny Depp é dos meus actores favoritos, e é interessante ver como Jack Spirrow (assim se escreve?) safa-se das armadilhas e assombrações. Ou será que ele é um fantasma, também? Será que os piratas são fantasmas? Daqueles que só vemos em Hollywood ou que habitam os thrillers mais emocionantes das histórias contadas pelos nossos avós? Não. Os piratas são reais e estão bem perto de nós. Na realidade, cruzamo-nos diariamente com os nossos na via pública.
Os Piratas de Moçambique navegam no mercado paralelo moçambicano e têm que se defender de outros piratas maus: os Polícias Camarários. Estes de vez em quando fazem as suas investidas e os Jack Spirrows moçambicanos lá se safam milagrosamente. Mas deixemo-nos de tretas e hipocresias. Os Piratas de Moçambique trazem alegria a muitos lares moçambicanos. Eu pessoalmente compro religiosamente 5 filmes piratas todas as semanas para ir me deliciando ao longo do fim de semana com uma tijela de pipocas ao lado. E quem os vende são jovens, mas vejo cada vez mais pais de família nesse negócio.
Eu não tenho editora, então como é que a minha música é conhecida em quase todo Moçambique? Graças aos piratas? Sem dúvidas. Infelizmente as nossas editoras e distribuidoras não têm capacidade para colocar a música moçambicana em todo país, e a bom preço. Quando a comunicação social pergunta aos músicos moçambicanos o que acham da pirataria, todos a condenam (até eu já o fiz). Todos afirmam-se capazes de arrancar das mãos dos piratas os discos piratas. Sim, assim mesmo, com violência e redundância. Mas o quê não é pirata em Moçambique? E isso que não é pirata, é acessível a todos?


As duas linhas em branco foram de propósito para dar tempo para pensar. Mas eu já estou resolvido. O problema não é a pirataria. E já agora, prefiro ver jovens e adultos piratas, em vez de criminosos. Porque poucas alternativas restam a muitos moçambicanos que têm que pagar contas e sustentar a família como nós, mas que não têm emprego como nós, não foram a escola como nós e nem são filhos de "alguém" como nós. Porque é que criticamos a podridão dos frutos, quando sabemos da podridão da árvore? A pirataria é só um dos frutos podres. Os cidadãos precisam de saídas para os becos desta vida. Atirar pedras para quem está a tentar sobreviver, não é solução.
Por isso, desde já, vai a minha saudação aos Jack Spirrows moçambicanos. Continuarei a comprar os vossos filmes. Se vos encontrar a vender a minha música sem a minha autorização, não vos arrancarei nada das mãos. Pelo contrário, vou sentir-me feliz por saber que estou a contribuir para o sustento duma família e oferecerei um "obrigado" por levar a minha música a Mutarara, Angoche, Boane ou Quissico. A minha música pertence ao povo mesmo.
Para finalizar, reiterar que acredito na proporcionalidade inversa entre a pirataria e o nível de vida. Quanto maior a segunda variante, menor a primeira. Por isso, chega de tretas!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Clube da Liberdade

Um dia desses dei por mim a pensar em questões existenciais. E perguntava-me, qual é o futuro da humanidade? Bem, perguntava-me isso porque sou jovem, mas às vezes vejo-me a fazer discursos moralistas em relação a nova geração, e pareço velho. É verdade...já notaram que as novas gerações estão a chegar cada vez mais cedo? Miúdos de 15 anos têm outra lógica de vida. Outras motivações. Quem está na faixa dos 20, já está ultrapassado. Imagine os dos 30! É incrível a velocidade com que envelhecemos nos dias de hoje e "passamos do prazo". Basta não teres uma conta no facebook, uns ténis de marca, um carro moderno, extensões na cabeça, saber falar inglês, para te passar ao lado um leque de transformações, e num belo dia, sais à rua, vais tomar um copo com os amigos e parece que estás noutro planeta.
Quando olho para a história da humanidade, vejo que ela tende a despir-se de preconceitos e princípios a uma velocidade crescente e vertiginosa. As bruxas que ontem eram queimadas ou apedrejadas por serem mais ousadas e seduzirem homens, hoje são verdadeiras deusas do Olimpo dos Hollywoods do mundo. Gigolô já não é vergonha, é profissão. É uma reforma em progressão geométrica. Hoje muda 1 item, amanhã mudam 5 e depois de amanhã 20. Nessa lógica, temos mais coisas que eram inconcebíveis há séculos, mas que hoje são normalíssimas:

-Sexo antes do casamento;
-Tratar os mais velhos por "tu" e partilhar os mesmos espaços de lazer;
-Roupas femininas com cada vez menos roupa;
-Crianças que vão à cama só depois da novela;
-Disputa do mesmo "mercado" de parceiros(as) por pessoas de idades extremas;
-Olhar para mendigos com disconfiança primeiro (ya, já ninguém sente pena);
-Ir a igreja só em datas importantes (baptismo, crisma, matrimónio, missa fúnebre)
-Partilhar filmes pornográficos a partir dos 9 anos (ou mais cedo, basta ter um celular que lê vídeos);
-Trocar beijos "apaixonados" à luz do dia;
-Não se preocupar com ortografia;
-E até uma sociedade que afronta os seus líderes.

Isto só para dar alguns exemplos, de certeza que os leitores conhecem mais.É quase certo que os princípios com que me educaram, não permaneceram os mesmos ou extinguiram-se. Será que na Era da Informação ainda podemos falar em princípios? Tenho as minhas dúvidas.
Mas o que me preocupa é que tenho uma filha de 2 anos que veio ao mundo inocente (perdoem-me, os católicos, mas nada de pecado original na minha pequena), e quando olho para ela, pergunto-me: que princípios? Que valores devo passar para ela? Se a primeira vez que eu disser que é tarde para ela sair e conversar com os amigos, a Tv, a Rádio, a Internet e até familiares irão me condenar? E eu que sou um crítico incorrigível ( e confesso que por vezes roço a hipocresia), acho que os meus dias na terra incurtarão cada vez que a minha menina usar uma saia curta.
Mas, há sempre um "mas", sou forçado a reconhecer que este mundo não pertence a ninguém, a nenhum princípio cultivado há séculos e muito menos a um pai inexperiente como eu. Os conservadores poderão dizer que a humanidade está perdida. Mas eu, cada dia que passa, começo a ser adepto de um outro clube, o Clube da Liberdade. Esse clube resume o que acho que será a humanidade num futuro breve, e já assim deve ser em alguns cantos do planeta. A única lei é que não há lei: tudo é permitido, desde que não prejudique o outro. Portanto, liberdade para todos. Liberdade de pensamento e acção. Liberdade sexual (liberdade mesmo hehe). Liberdade de adorar e seguir novos ídolos. Liberdade de diversão. Liberdade de ser criança ou adulto. Mas sempre cuidando para não ferir a liberdade do outro. (E claro, por mais difícil que seja, não se prendam muito a princípios, já temos muita gente a morrer subitamente de ataques cardíacos.)