quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Marketing político (dois slogans)

Deixem-me roubar um bocado da minha costela publicitária para analisar dois slogans políticos que ficaram na cabeça dos moçambicanos nos últimos quase 6 anos. O primeiro seria "combater a pobreza absoluta" e o segundo "geração da viragem".
O "combater a pobreza absoluta" é formado por duas palavras bastante conhecidas pelos moçambicanos (público alvo), "combater" (da história da luta armada) e "pobreza" (algo que se vive ou se tem medo de viver num país do 3º mundo), o comando que resulta da combinação dessas duas palavras produz dois sentimentos: vontade lógica de afastar-se dum estado negativo, o de ser pobre, e uma dúvida ou interrogação sobre o que fazer para obedecer esse comando. De seguida temos uma palavra que parece insignificante, mas que é extremamente importante pela discórdia que provoca,"absoluta". Acredito que o único momento que usamos essa palavra é quando desejamos classificar a nossa certeza, "certeza absoluta"(pérola interessante da tautologia). Então que raio está essa palavra, tão pouco usada, a fazer no slogan dum governo? A resposta é lógica: novidade.
A novidade é algo a qual nunca ficamos indiferentes, ou gostamos ou desgostamos, mas sempre nos manifestamos. Que há pobreza, sabemos. Que é absoluta? É algo para se discutir. E é o que aconteceu no nosso país.
Então tínhamos inicialmente dois debates. Primeiro: como combater a pobreza? Segundo: o que significa a pobreza ser absoluta? Bem, muita água correu debaixo dessa ponte. Relatórios internacionais, definições sociológicas, análises de especialistas políticos, discursos do governo, respostas da oposição, temas para músicas e para piadas por sms. Mas uma coisa é certa. O slogan resultou. Está na cabeça das pessoas, e hoje começa a produzir sub-slogans: "pobreza urbana". Outra coisa abstracta, discutível. Outra ponte para mais água passar. E deste modo, muito e pouco se faz debaixo desse conceito propagandístico. Conferências, planos quinquenais, e até justifica-se o enriquecimento (lícito ou não), a abertura do país para investimentos turísticos, bancários e minéiros, negligenciando a produção, tudo em nome de um slogan político. Afinal, enriquecer é combater a pobreza absolutamente.
O segundo slogan político é "geração da viragem". E mais uma vez encontramos os elementos anteriores: identificação histórica e novidade. E mais um elemento novo: um público alvo mais específico, mas que tornou-se centro das atenções nos últimos tempos: juventude.
Comecemos pela "identificação histórica", e depois a "novidade". A palavra "geração" é do domínio de todos os moçambicanos. Já tivemos a "geração da independência" e a "geração 8 de Março". A palavra "geração" provoca um sentimento de unidade e identificação mútua. E houve consenso em relação a forma como foi aproveitada. A palavra "viragem" é o elemento novidade. É outra palavra que raramente usamos, a não ser nos brasileirismos: te vira, virou o quê? Mas aí é que entra a questão chave. Vamos recuperar a palavra "geração" e perceber porque ela foi "acordada" e como é que ela se relaciona com a "viragem".
Num contexto político em que acabava de surgir uma terceira força política que tinha como alvo a juventude e que a mesma é a maioria dos votantes, seria estupidez se os concorrentes não dessem a devida atenção a isso. Para não alongar questões políticas, diria que a juventude representava e representa o centro do tabuleiro deste jogo político que será ganho por quem souber ocupá-lo e explorá-lo.
A geração representa a juventude. A "viragem", repare-se que é um termo jovem, quando combinada com a "geração" produz um comando que imprime uma hipotética dinâmica entre os jovens. "Pelos menos o governo está a olhar para a juventude", "a juventude já não é marginalizada", "temos jovens em posições de topo no governo", isto é o resultado que o slogan e algumas acções provocam no público-alvo.
Mas, mais uma vez, temos igualmente a pergunta: o que deverá fazer a geração da viragem? Motor de discussões televisivas, questão disputada pelos média com se de um osso saboroso se tratasse. Mas o que interessa aqui, mais uma vez, a nível de marketing político, não é fazer sentido ou ser consensual. É ter impacto. E resultou. Viveremos nos próximos tempos debaixo desse slogan. Ele justificará muita coisa. Será mais uma ponte para mais água passar.
Aos pensadores por detrás destes slogans políticos, um "parabéns maquiavélico".

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Um pouco de publicidade


Cliente: Tv Cabo
Redactor: Edson da Luz (Azagaia)
Director de arte: Albachir Muinde
Meio: Revista "Viva"

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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Povo vigilante!

Caros, andei ausente do blog. Muita confusão por estes dias. É hora de fazer um balanço mais consciente e menos emocional do que aconteceu. E quero começar por perguntar o óbvio. Por que o nosso governo não tomou estas famosas medidas antes de tanto sangue derramado? O que levou a estes senhores muito estudados e conhecedores da matéria a não agir com esta súbita prudência? O que aconteceu entre a sexta-feira da semana passada e a terça-feira desta semana, que fez o governo mudar 180 graus? Conselho de Ministros reunido 2 vezes em menos de 5 dias? Será pressão externa? Alguém sabe de algum encontro do governo com os doadores (escapou-me)? Estas e outras perguntas não se querem calar na minha cabeça. Porque é muito estranho que um governo tenha sido influenciado pelos mesmos "bandidos, malfeitores e marginais" que condenou e repudiou, segundo palavras do ministro do interior. Bem, talvez dirão que nunca fico satisfeito. Que não há nada que este governo possa fazer para agradar-me. Estão livres de dizê-lo. Mas que está tudo muito estranho, está. Só um cego não vê.
Outro facto para o qual gostaria de chamar a atenção, é o da ausência de exigências concretas por parte do povo, a não ser o de baixar o custo de vida. O povo chorava por pão, então deu-se o pão. Amanhã o povo esquece. Por isso que quaisquer que fossem as medidas que roçassem o abaixamento do custo de vida, seriam aplaudidas. Mas o que realmente queremos como povo? Veja-se o exemplo da África do Sul. O governo anunciou a subida do salário mínimo para um valor próximo ao solicitado na greve. A greve parou? Não. Porque os trabalhadores sabiam o que queriam e porquê o queriam. É isso que nos está a faltar. ORGANIZAÇÃO. Para não calarmos com chuchas, mas, sim, com a satisfação das nossas reais necessidades.
Agradecia que cada um dos moçambicanos fizesse uma análise minuciosa das medidas anunciadas. Porque a de parar com a dupla cobrança de taxa de lixo, não é uma medida digna de se anunciar, é sim algo irregular que tinha que ser corrigido, e ponto final. Penso que devemos analisar o resto das medidas também.
Fica uma grande chamada de atenção aos sindicatos e a sociedade no geral. Um Estado Corrupto pode custar vidas a longo prazo. Acredito que se não tivéssemos sindicatos moribundos (que ao que parece, "comem" com os chefes para evitarem greves), e estes sindicatos assumissem o seu papel social, esta manifestação teria sido mais ordeira e objectiva. Com exigências concretas. E poupar-se-iam vidas humanas.
Outra grande chamada de atenção vai para o governo. Parem de ser arrogantes. Favor medir as palavras. Não desatem a disparar predicados para o povo que, muitos deles, encheram os vossos camiões durante campanhas eleitorais para que pudessem encher a boca e dizer que venceram com maioria absoluta. Continuarão a chamar-nos agitadores ou apóstolos da desgraça, mas enquanto não houver comunicação entre o governo e o povo, principalmente em momentos cruciais, teremos manifestações populares, organizadas ou não, com "vandalismo" à mistura ou não. Já se foram os tempos em que a violência resolvia tudo (se é que resolvia). A acção da polícia durante estas últimas manifestações foi miserável, e o povo esteve a ver e a chorar a perda de seus entes queridos.
O POVO ESTÁ DEFINITIVAMENTE NO PODER! Mas precisa organizar-se para exercer o seu poder com cada vez maior eficácia. Vem aí a revisão da constituição. Estejamos atentos. Analisemos com frieza e não com a emoção de todas as distracções que nos lançam. O processo de organização é natural, mas pode também ser pensado e acelerado. Podemos dar forma a essa organização. Académicos, artistas, líderes de opinião, jornalistas...a organização de que tanto precisamos deverá ser alimentada por nós. Nós e nós, polícias de nós mesmos. Eu e eu, polícia de mim mesmo. Povo vigilante. O POVO ESTÁ NO PODER!