Moçambicanos e moçambicanas. Amigos de todos os cantos do mundo e todos os que verdadeiramente amam esta terra e este povo. É hora de assumirmos os destinos das nossas vidas e do nosso país. Juntámo-nos uma vez para combater a primeira grande crise que nos assolou, o colonialismo português. Combatemos e vencemos. Porque quando a causa é justa, mais cedo ou mais tarde é reconhecida e a justiça reposta. Atravessámos o caminho tortuoso da guerra civil durante 16 anos. Guerra entre nós. Guerra entre moçambicanos. Porque irmãos moçambicanos entenderam que a nossa liberdade não seria completa enquanto determinadas liberdades não fossem conquistadas. Pegamos em armas, novamente. Derramámos sangue por elas. Conquistámo-las. Hoje somos um país independente e em paz. Hoje somos uma jóia para África. Mas, uma coisa nos caracteriza como moçambicanos, sempre soubemos a hora certa de lutar por nós e pelos nossos irmãos. Eis que ontem fomos convidados a pegar em armas para derramar sangue em nome da nossa pátria, sacrificamos parentes, amigos, família, bens materiais e sonhos individuais por um sonho maior. Esse será sempre o selo da nossa moçambicanidade, não o sangue derramado, mas a união por um ideal comum. O sangue, não o queremos derramado. Queremo-lo nas nossas veias, circulando, bombeado por corações moçambicanos.
O mundo atravessa uma grande crise, mas nós atravessamos também a nossa crise interna. Uma crise de gestão do que é património de todos nós e das futuras gerações. Uma gestão que, se assim continuar, ameaça despertar o espírito dos irmãos que uma vez forçaram a mudança a custa de sangue. Ameaça trazer a guerra de novo. Mas nós já regamos a nossa terra com sangue que baste. Agora é altura de nos unirmos e combatermos a nossa crise de forma firme, inteligente e decisiva, mas não-violenta, porque não é o sangue que nos uni, mas sim os princípios e os ideais. Por isso e pelo direito e dever de intervir como cidadão para melhorar a situação do meu país, levanto-me hoje eu, Azagaia, músico de intervenção social e convido-vos a todos a acompanharem-me num movimento civil de protesto não-violento a ser oficialmente lançado no dia 6 de Maio do presente ano. Protestemos contra a fome que ainda existe no nosso país, nas cidades e no campo, mesmo dispondo de um vasto e fértil território. Protestemos contra as enormes quantidades de madeira irregularmente arrancadas do nosso país para alimentar indústrias transformadoras de outros países, enquanto nós, donos dos recursos, não possuímos uma indústria transformadora bem estabelecida. Protestemos contra o facto de importarmos tudo e mais alguma coisa, quando formamos anualmente profissionais capazes de produzir, muitos deles abandonados por falta de influências no mercado de trabalho. Protestemos contra o facto do nosso governo sacrificar áreas vitais para a nossa economia e vida social, como a agricultura, a saúde, os transportes, a educação e a cultura para privilegiar áreas como a presidência e os serviços de inteligência. Protestemos contra este amor que ensinamos às nossas crianças e jovens, o amor ao dinheiro, aos bens materiais e à cultura de outros povos, em detrimento da nossa. Protestemos contra o salário miserável do polícia cinzentinho que, sem alternativas, torna-se criminoso para alimentar a sua família. Protestemos contra a polícia instrumentalizada para usar o medo como método de controle da sociedade. Protestemos contra a brutalidade policial. Protestemos contra as condições desumanas em que estão encarcerados a maioria dos reclusos, quando um grupo específico tem direito a tratamento de luxo. Protestemos contra os salários baixos que a maioria dos nacionais recebem comparado a cidadãos estrangeiros, mesmo em situações de igualdade de funções desempenhadas. Protestemos contra os juros proibitivos cobrados pela banca nacional que não nos dão outra alternativa senão o abandono das nossas iniciativas empreendedoras. Protestemos contra o facto de até hoje não produzirmos telenovelas moçambicanas que abordem assuntos sociais sob a nossa própria perspectiva e sermos obrigados a viver sob forte influência estrangeira nas áreas culturais. Protestemos contra o facto dos artistas nacionais não poderem viver da sua arte. Protestemos contra os intocáveis que mesmo conhecidos os seus crimes, circulam impunemente. Protestemos contra a qualidade de ensino que vem piorando. Protestemos contra as crianças de rua que são nada mais, nada menos, que produto da nossa hipocrisia. Protestemos contra a centralização de oportunidades de vida nas grandes cidades, o que faz com que o caponês ou a camponesa prefira transformar-se em empregada(o) doméstica(o), vendedora(o) de esquina ou até mesmo prostituta(o). Protestemos contra mega-projectos que pouco impacto têm na melhoria da vida dos moçambicanos. Protestemos contra as construções por cima dos mangais e em zonas com risco de erosão. Protestemos contra a venda e acumulação de terra nas mãos de alguns para mais tarde revenderem-na a preços especuladores, enquanto jovens recém-formados ou casados não têm habitação. Protestemos contra as universidades privadas que fazem do ensino apenas um negócio. Protestemos contra estas e outras coisas que espalham a pobreza, o crime e a cultura do egoísmo e ganância entre nós. Porque o fim último da corrupção, do nepotismo, do amiguismo, do seguidismo, do egoísmo, da ganância e culto de personalidade que praticamos todos dias, o fim último de vendermos a nossa dignidade, a nossa cultura, os nossos princípios ao preço de uma vida melhor só para nós e para o nosso pequeno circulo de amigos, o fim último de tudo isso será vendermos o nosso próprio país ao preço desses ganhos. Reparem que as iniciativas empresariais que mais empregam moçambicanos, não pertencem a moçambicanos. Os nossos bancos são um bom exemplo disso. Olhem para os viveiros de racismo que são os centros turísticos do nosso país. Reparem nisto e em outros sinais. É hora de mostrarmos que somos feitos da mesma fibra que os nossos heróis.
O sinal de protesto é simples e possível. A ideia é transformarmos cada um de nós na cara dos nossos ideais, na cara do nosso protesto. Por isso, em sinal de protesto, não cortaremos mais o nosso cabelo até que o governo moçambicano ceda às nossas exigências. Exactamente. Esse será o nosso método de pressão. O exercício da nossa liberdade. Sangue não será derramado, mas chegaremos ao coração de todos os que são responsáveis pela mudança. Pois esse é o lugar onde todas as guerras foram e são ganhas.
Maputo, aos 21 de Abril de 2011
O Movimento 6 de Maio
Ouve, descarrega e espalha a edição zero do "INFORmal", um programa mensal de rádio sem censura, dedicado à divulgação e debate de ideias relacionadas com o Movimento 6 de Maio: http://soundcloud.com/veryket/informal-zero
Qualquer contribuição, apoio, ameaça ou denúncia poderá ser encaminhada para movimento6m@gmail.com.
Hospitalizado
Há 4 anos
CUBALIWA?
ResponderEliminarBABALAZE?
SOUND & POWER and FASCO?
ELDA EATOR & RICK'S SETAIN is taking you all to the cleaners.
Something about DR. DRAGONBALL?
DEDOONV?